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Vestiu preto.
Mas não sentiu-se bem.
Luto não era o que queria.
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Queria vestir a própria morte.
A tanto tempo não sentia o desejo por ela.
A tanto tempo o coração não doía tanto.
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Fez-se mentirosamente forte.
Mas mentirosamente forte foi o que havia sido esses meses.
Mentirosamente forte, era o que havia sido toda uma vida.
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Hoje queria ser fraca.
Queria ter mesmo deixado-se bater no acidente que evitou alguns momentos antes no centro da cidade.
Ao menos se naquele momento soubesse de tudo não o teria evitado.
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Na roupa preta seguiu a rotina.
Ao menos pudesse por algumas semana sumir.
Mas nem isso podia, os compromissos já estavam todos agendados.
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E essa vontade de fugir, essa vontade de sumir, essa vontade de morrer.
Chorar é pra fracos, repetia o jargão que ficou aposentado algumas semanas.
Morrer é pra perdedores, repetia a nova palavra de ordem.
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Restava vislumbrar o futuro sombrio.
E desejando a morte enfrentar a vida.
Com a alegria de farmácia recém comprada.
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Resta-lhe assumir a maturidade que quer negar.
E de uma vez por todas parar de se deixar ser criança.
De se obrigar ser criança.
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Pois se sabia de tudo desde sempre, só uma criança choraria pelo brinquedo que jogou contra a parede.
Vestiu preto e engoliu as lágrimas.
Desejou a morte. Mas que não fosse a sua.
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Engoliu as lágrimas que com aquele gosto de alto mar.
refletiam a mesma história, a mesma piada divinal
ontem mesma relembrada
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Vestiu preto
desejou a morte
e mais uma vez odiou o todo poderoso. Aquele piadista de mal gosto.
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4 comentários:
Nunca havia pensado nisso, que muitas vezes o luto não é suficiente, mas que a morte em si seria a roupagem perfeita...
Lembrei do poema de Oswaldinho, "que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca, porque metade de mim é o que eu grito e a outra metade é silêncio".
morte em vida traz renascimento de muita coisa na gente!
a fase negra transitoria...eu tbm acho q as vezes o sr.Barbudo brinca c a gente!
bjosss
MARIS, bola pra frente!
Um abração carioca!
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