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domingo, 6 de setembro de 2009

Como você chora?

Uma professora de dança nos fez ano passado uma pergunta que revolucionou muitos dos meus entendimentos de arte contemporânea, e por isso queria compartilhar com vocês a tal pergunta.


COMO VOCÊ CHORA?

Isso mesmo, a pergunta não é o que te faz chorar, quem, quando, onde, nem porque. Mas como. fisicamente falando.

Eu choro assim:
Eu tento me encolher, se estou deitada me encolho até ficar meio em posição fetal.
Meu rosto todo dói,
Hoje não mais, mas teve uma época que as lágrimas ardiam enquanto escorriam pelo rosto.
eu não tento secar as lagrimas, deixo elas escorrerem,
Meus ombros doem.
se estou sentada sento sobre as mãos,
se estou em pé é como se eu tentasse me abraçar.
Minha garganta dói,
e sinto uma profunda dor de cabeça quando passa.


Chorar é algo que fisicamente é muito profundo, repare, as pessoas se acabam, e depois fazem compressas nos olhos achando que isso resolverá suas caras choradas. Eu vejo se a pessoa chorou umas pela boca outras pelo nariz.
Alias remédio bom pra cara de choro é compressa de chá de camomila. Receita de casa com três mulheres, todas que quando desatam a chorar, é a noite toda.

Já contei que tem um certo tempo que não choro né. Estou guardando minhas lágrimas pra velórios e despedidas. Cansei de chorar porque alguém não retorna minhas ligações. Coisa de mulher que leva a sério os conselhos que ouve dos homens a sua volta.


Mas agora que você já entendeu a pergunta, me responda, como você chora?

sábado, 18 de julho de 2009

Chorar ou não chorar. Eis a questão

.
Lembra da Alicia? Ela estudou com a gente na sexta e na sétima série.
Não sei como você consegue esquecer alguém como a Alicia.
Essa mesma, Alicia chorona-bobona.
Encontrei com ela ontem. Estava voltando de Morretes e nos encontramos no trem, e estavamos as duas vindo pra casa, as duas perdemos o onibus da seis e meia, achamos que era destino e não nos separamos mais até a hora de dizer tchau quando o onibus chegou aqui.
Alicia chorona-bobona como a chamavam os do fundão sempre foi emotiva demais.
Quando nos conhecemos, lembra, ela chorava desesperadamente, porque não ia mais ter aula com alguma professora da quinta série. Outra vez, ela viu sua mãe na escola, chorou horas. Achava que poderia ter acontecido algo, algum professor reclamado ou coisa assim. Não era nada. Alicia além de chorar demais tinha esse outro problema que era sofrer por antecipação.
Quando a menstrução de nossas amigas começou a vir pela primeira vez, uma a uma, Alicia chorava porque sabia que um dia a dela também viria.
Quando o primeiro namorado terminou com ela, meu deus, achei que Alicia fosse desidratar.
Na oitava série Alicia mudou de colégio.
Além de ontem a noite nós nos reencontramos outras duas vezes nesses doze anos que se passaram. Na época do cursinho ela queria ser fisioterapeuta e nós frequentavamos o mesmo cursinho. Alicia tinha mudado um pouco, mas não muito, continuava chorona, mas sempre me dizia que um dia ela teria que aprender a parar de chorar.
Naquela época ela brigou feio com o pai dela, chegou a sair de casa, só voltou mais de um ano depois. Era de cortar o coração, estavamos lá, assitindo alguma aula e eu por alguma razão olhava pra ela, e uma lágrima escorria pelo rosto de Alicia.
Dia e noite, noite e dia Alicia chorava.
Ficamos outros muitos anos sem nos reencontramos, mas o destino sempre cooperou em nossos reencontros. Uma vez eu estava voltando pra casa, e estava plantada a oito horas no aeroporto de Boston. Carregando malas de um lado para outro de saco cheio já, quando a mala de mão caiu, soltei um sonoro "puta que pariu". E o destino, essa criança travessa arrumou de Alicia estar passando ali naquela hora. Ela riu.
Disse-me que eu não havia mudado, nem meu vocabulário.
Ficamos mais cinco horas ali até o avião dela partir, o meu demorou mais que isso.
Alicia estava um caco.
Feliz. Mas acabada.
Dizia-me ela que sabia que se encerrava naquele dia o período mais dificil da vida dela, que voltaria pra casa e seria outra pessoa.
Se foi ou não, demorei outros anos pra descobrir, só descobri ontem na verdade.
Mas naquele dia Alicia tinha olheiras que tomavam conta do rosto todo. Se eu tivesse ouvido tudo o que ela me contou naquele dia eu nunca teria ido trabalhar naquele maldito navio. Pois é, ela estava voltando de uma temporada de navio. Não disse que o destino é uma criança travessa, ela também trabalhou em navio.
Enfim, nessa época de navio, ao que parece o momento mais dificil da vida da Alicia, ela chorou rios de lágrimas.
Mas o que eu mais lembro, é a descrição que ela me fez das lágrimas que ardiam. Dizia que não sabia se era a água do navio ou o que...
Mas que as lágrimas, lembro que ela dizia nao eram apenas lágrimas, mas "lagrimonas" essas lagrimonas eram maior que lágrimas normais, e que quando escorriam era como se queimasses a pele. Como que para marcar pra sempre na pele o que só sabe quem já passou pelo inferno em alto mar.
Dizia que sentia doer. queimar, arder e outros adjetivos relacionados à dor ácida. Só entendi cada um desses adjetivos no meu tempo de navio. Talvez fosse a água mesmo.
Depois desse encontro regado a muitas lágrimas e café do Dunkindonuts, ela me ligou algumas vezes. E eu, naquela adrenalina de que estava chegando meu tempo de ir pro navio não pude perceber a profunda depressão que Alicia enfrentava. Voltar pra casa foi ainda pior.
Mas essa dor eu conheço.
Seus amigos tem novos amigos, novos assuntos, novas piadas. E você não se encaixa mais na vida de ninguém.
Fui. Voltei. Minha vida prosseguiu e a de Alicia também.
Ontem essa criança travessa chamada destino nos reuniu.
E Alicia, mais linda do que nunca. Não derrubou uma única lágrima.
Contamos de nossas aventuras e desventuras. Mas Alicia não chorou.
Alicia chorona-bobona não chora mais.
Simplesmente não chora mais.
Ali pelo meio da viagem tomei coragem e perguntei se no meio de tantas loucuras, fracassos e sucessos não dava vontade de chorar enquanto contava, afinal, ela sempre chorou tanto.
Alicia me disse que a alguns meses não derrama uma única lágrima.
Seriam mais meses, mas tem uns três meses ela chorou um domingo inteiro. Mas antes já se ia quase um ano sem ter chorado.
E me contando dessa vida sem chorar, ela me contou de um velório. Recentemente uma pessoa muito querida dela faleceu. Chegando lá, ela parou ao lado do caixão, e abraçada ao filho desta pessoa ela olhava a falecida.
"é hoje que eu choro", pensou ela.
Mas não chorou.
Ficou ali, olhando para o peito da morta, como que esperando o subir e descer da respiração. Mas não subia.
Nem descia.
E nesse dia diz Alicia, ela se deu conta que algo havia mudado. Ela havia aprendido a não chorar como tanto queria naquela época de cursinho. Ou havia se tornado a outra pessoa que havia decidido ser depois do navio.
Como o destino meu e da Alicia é mais travesso que você é capaz de imaginar, ela tem dois homens na vida dela hoje.
Um exige que ela abra mão da vida dela e o siga cegamente.
Outro
a esquece em qualquer canto.
Nenhum dos dois a buscaria na rodoviaria quando chegamos.
Um porque estava sempre longe
o outro por que na hora da precisão nunca estava por perto.
perguntei se por algum deles ela chorava.
"Nem nó na garganta, Maris, nada! nenhum deles merece nem uma única lágrima minha"
Alicia não chora mais.
Juro que pensar e escrever essa história dela quase me fez chorar.
Mas sei que a Alicia não choraria.
Ela tinha mesmo razão quando dizia que seria outra pessoa.
Não entendo essa teoria das pessoa que merecem ou não nossas lágrimas.
Fico aqui criando as minha teorias sobre quando Alicia decidiu parar de chorar. Acho que ela deve ter criado conceitos sobre merecedores e não merecedores.
Quanto a chorar o futuro, ou aquele preocupar-se todo com o que está por vir, ela me pareceu conformada. Como quem espera o irremediavel, mas as vezes ela deixava escapar um sorriso cretino de quem sabe que as vezes o quem vem pela frente nem é tão ruim assim. Então, pelo bom ou pelo mal que vem, ela não chora.
Mas como tudo que se leva a sério demais...
acho que hoje ela não controla mais o não chorar, ela simplesmente não chora.
Assim como um dia ela não controlava o chorar. Ela simplesmente chorava.