segunda-feira, 19 de julho de 2010

sobre frio, sobre tudo, sobre versos

.
Viver no sul, fez dela alguém com hábitos diferentes
dos tal país tropical.
Alguém que junto com os mimos de todos
ainda acrescentava, mimos que aquecessem.
Então, naquele dia
ela preparou tudo nos minimos detalhes.
No fogo, a lenha crepitava
e o calor aquecia
a tarde de inverno
Pela casa, com cuidado, ela arrumou, limpou,
perfumou, organizou.
Ainda um tanto de lenha extra, recolheu,
para que quando alguém chegasse, encontrasse
conforto, perfeição e calor.
O telefone tocou.
Era alguém avisando que em poucos minutos estaria em casa.
Ela então,
após conferir os últimos detalhes saiu.
Não lhe cabia mais aquele calor.
.
.
.
Naquela noite gelada
Sobre tudo ainda ela vestiu o sobre-tudo de lã.
E sobre ele, aquela jaqueta que um dia
fora sua jaqueta de esquiar.
Com frio, vento e chuva,
tentava imaginar onde era o tal
país tropical que um certo alguem cantou
Seis graus, não lhe pareciam tropical.
Subiu na moto,
e guiando por instinto,
na neblina congelante que se erguia
foi ao encontro do ultimo calor que lhe restava
Naquela noite gelada,
só mesmo aquele vinho barato
seria capaz de aquecer.
.
.
.
Sobre o teclado, os dedos pausavam imóveis.
E na mesa, a caneta jazia pausada sobre o velho caderno que um dia já lhe fora garantia de versos.
Nem mesmo a maquina de escrever empoeirada conseguia tirar dela uma única palavra.
Se nos primeiros dias, ela culpava o teclado por ter lhe roubado as palavras, agora, teclado, caneta, caderno e a velha máquina, a culpavam.
E ela,
desviava o olhar,
pois não era mais capaz de enfrentar as cobranças impiedosas,
daqueles que uma vez
lhe foram tão complacentes.
Talvez fosse mesmo culpa deles, e de sua complascencia.
Se ao invés de apenas deliciarem-se com as palavras que ela lhes confiava, tivessem ensinado-a, o que fazer, um caminho a trilhar.
Mas não.
Acomodaram-se em ser apenas continentes, de um conteúdo que quase sempre era dor.
E ela,
agora que desistiu da dor,
era então rejeitada,
pelo teclado, pela caneta,
pelo velho caderno.
E até,
pela maquina de escrever, um dia lhe jurou amor eterno.
Tudo por que ela,
naquele inverno, cansada de esperar
desistiu da dor.

2 comentários:

Renata Fagundes disse...

Começou quente e terminou frio...

Desejo chocolate quente pra aquecer e adoçar o coração :D

beijos cintilantes

PAULA OLIVEIRA disse...

Opa! Um chocolate quente bem gostoso para esquentar esse frio chato!!