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domingo, 8 de maio de 2011

A morte do poeta

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Certa vez
li que a pior coisa que poderia acontecer a um jovem
aspirante a poeta é casar-se cedo,
ser bem sucedido nos negócios, ter uma vida longa e feliz.

Concordo.
Tudo de bom que já escrevi veio em momentos de profunda dor,
e muitas vezes de profunda depressão.

A dor alimentou meu eu-lírico.
Alimentou minha poesia,
minha paixão pelas palavras.

Doía fundo no coração a saudade da vida que nunca mais eu recuperaria,
doía, o amor de um homem que nunca seria meu, só meu.
Doía, um filho que a vida não me permitiu ter,
doía, os amigos que o destino levava pra longe.

Doía, doeu, doeu fundo.
Mas não dói mais.

Pra minha poesia,
a pior coisa que pode acontecer
foi encontrar o anti-depressivo certo.

Ah, como eu ainda quero voltar àquela vida de asas,
sem perder as raízes que cultivei,
também ainda amo o mesmíssimo homem,
como se ele tivesse partido ainda hoje pela manhã.
O filho, bom esse eu ainda sonho em ter,
E os amigos prossigo fazendo novos amigos,
sem desistir de tentar entender porque de alguns o contato se foi.

Mas as dores são dores que não me cegam mais,
não arregaçam o coração,
não me roubam mais a habilidade de respirar.

São dores.
Apenas dores.
Dores que doem, mas não inspiram poesia.

A vida, passou a ser mais importante que a dor.
Não que a poesia não me seja fundamental,
mas não posso ser como os românticos,
escolher viver a dor pra alimentar a arte,
não sou uma alma assim, tão evoluída.

domingo, 12 de dezembro de 2010

drogas

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A cólica esteve aqui a semana toda,
eu só não senti a dor,
dipirona contra cólica.
A saudade esteve aqui a semana toda
eu só não senti a dor,
trabalho demais contra saudade.
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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Dores que chamam palavras

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A primeira dor que conheci que chamava uma palavra foi AZIA.
A dor, a queimação aquilo tudo que ardia no estomago tinha que ter um nome, e tinha. Assim que começou a queimar, eu sabia aquilo só podia ser azia.
Com o tempo a azia trouxe outro nome de dor, GASTRITE era ele.
E pouco tempo depois, minha mãe me explicava que uma nova dor que eu sentia quería dizer que eu tinha virado mocinha. Instintivamente concluí que só podia ser a tal da CÓLICA que tanto se falava.
Muito tempo se passou até eu conhecer uma nova dor que chamava palavra. Eu estava morando sozinha nos Estados Unidos, e sentia muito mais que saudade, e pra piorar não existia uma palavra em inglês pra dizer que aquela dor toda que meus olhas estampavam era saudade. Eu me sentia doente. Doente e só minha casa me curaria. Descobri assim o nome em inglês pra dor que eu sentia: HOMESICKNESS.
Mais um longo período sem dores que não tinham nome. E um dia, veio uma dor, uma dor tão forte, quase destrutiva que me arremessou ao chão, e em lágrimas eu apertava as mãos contra a cabeça, ENXAQUECA pareceu caber certinho pra descrever aquela que só poderia ser a mais forte das dores.
RINITE é outra palavra que apareceu, uns dizem que ela trouxe a enxaqueca, mas eu sei que ela sempre esteve ali. A enxaqueca só a libertou pra me por de cama.
Mas de todas essas é uma dor que não dói que todos os dias prende meu fôlego. Não é medo, também não é ansiedade. Não é DOR, não. Definitivamente não é dor. O nome dela, é TUMOR.

domingo, 19 de setembro de 2010

segunda-feira, 19 de julho de 2010

sobre frio, sobre tudo, sobre versos

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Viver no sul, fez dela alguém com hábitos diferentes
dos tal país tropical.
Alguém que junto com os mimos de todos
ainda acrescentava, mimos que aquecessem.
Então, naquele dia
ela preparou tudo nos minimos detalhes.
No fogo, a lenha crepitava
e o calor aquecia
a tarde de inverno
Pela casa, com cuidado, ela arrumou, limpou,
perfumou, organizou.
Ainda um tanto de lenha extra, recolheu,
para que quando alguém chegasse, encontrasse
conforto, perfeição e calor.
O telefone tocou.
Era alguém avisando que em poucos minutos estaria em casa.
Ela então,
após conferir os últimos detalhes saiu.
Não lhe cabia mais aquele calor.
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Naquela noite gelada
Sobre tudo ainda ela vestiu o sobre-tudo de lã.
E sobre ele, aquela jaqueta que um dia
fora sua jaqueta de esquiar.
Com frio, vento e chuva,
tentava imaginar onde era o tal
país tropical que um certo alguem cantou
Seis graus, não lhe pareciam tropical.
Subiu na moto,
e guiando por instinto,
na neblina congelante que se erguia
foi ao encontro do ultimo calor que lhe restava
Naquela noite gelada,
só mesmo aquele vinho barato
seria capaz de aquecer.
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Sobre o teclado, os dedos pausavam imóveis.
E na mesa, a caneta jazia pausada sobre o velho caderno que um dia já lhe fora garantia de versos.
Nem mesmo a maquina de escrever empoeirada conseguia tirar dela uma única palavra.
Se nos primeiros dias, ela culpava o teclado por ter lhe roubado as palavras, agora, teclado, caneta, caderno e a velha máquina, a culpavam.
E ela,
desviava o olhar,
pois não era mais capaz de enfrentar as cobranças impiedosas,
daqueles que uma vez
lhe foram tão complacentes.
Talvez fosse mesmo culpa deles, e de sua complascencia.
Se ao invés de apenas deliciarem-se com as palavras que ela lhes confiava, tivessem ensinado-a, o que fazer, um caminho a trilhar.
Mas não.
Acomodaram-se em ser apenas continentes, de um conteúdo que quase sempre era dor.
E ela,
agora que desistiu da dor,
era então rejeitada,
pelo teclado, pela caneta,
pelo velho caderno.
E até,
pela maquina de escrever, um dia lhe jurou amor eterno.
Tudo por que ela,
naquele inverno, cansada de esperar
desistiu da dor.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

sobre a perda em família

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Liguei pra minha tia no domingo a noite, precisava pegar minha prancha que estava na casa dela, ela me chamou pra tomar sopa.
Perder a Mara, foi um absurdo tão grande que fez nós todos revermos nossos valores.

Todos, menos meu pai. Mas não se pode esperar isso de alguém como ele.

Ficamos, eu e minha tia, falando da bestialidade que foi essa morte.
Acho que ela também se perguntava do porque investimos tanto tempo em algumas amizades, e a família, a gente deixa no pause, como se fossem ficar ali pra sempre.

A Mara morreu nova. E viveu pouco.
Essa frase que ouvi no velório, martelou na minha cabeça a semana toda.
Além de ser jovens, e os jovens não deveriam morrer; a Mara nunca fez nada. Nunca fez nada de errado nem de certo. Isso tá me incomodando demais.
Ele viveu a vida toda entocada naquele sítio.
Mas não era alguém tipo de novela das seis, que aproveita as cachoeiras, os cavalos... Não. Ela não gostava disso. Vinha pra cá pra estudar, mas era isso só. Vir, e só.
Quando resolveu trabalhar, ela trabalhava e só.
Não consigo fazer isso ter a dimensão real, parece que eu a conhecia pouco, e por isso pensava isso dela. Mas não. A Mara nunca correu riscos, nunca quiz mais, nunca tentou.
E me dói tanto, que ela se foi absolutamente do nada.
De manhã ela estava bem, ao meio dia foi internada, e a noite ela nos deixou.

Na terça-feira, minha mãe me ligou, avisando que iria lá.
Minha mãe definitivamente não é uma pessoa com tato. E por mais que fosse a irmã dela que tinha perdido uma filha, no dia do velório ela só pensou nela, se doía muito pra ela, ela tinha o direito de ir embora.
E eu, me vi ensinando minha mãe a se portar num momento assim.
Ela devia ter me ensinado né, ter dito, olha filha, nessa hora não existe nada que você possa dizer ou fazer. Então não diga, nem faça. Tá bom!
Nõa diga que foi a vontade de Deus, isso dói mais. Não diga que a hora chegou, porque não é justo a hora dela chegar antes da minha, não diga que com o tempo vai doer menos, porque não vai.
Ela vai querer falar, por pra fora.
Escute.
Só escute.
Só escute.
Se ela não quiser falar, não obrigue.
Seja o ombro que ela precisa.
Mas minha mãe nunca falou isso.
Eu que tive que falar pra ela.
E brigar ainda: não mãe, não fale da vontade de Deus... Eu sei que você pensa que foi, mas isso não ajuda e só atrapalha... eu sei mãe... tá bom... mas não fale... Mãe, e se fosse um filho seu? Ia ser justo ele ter levado e te deixado?

Confesso que eu achei que a esse ponto já teria recuperado minha fé. Mas os meses, um após o outro têem passado, e cada dia menos eu a encontro.
Confesso, que a fé dos outros me irrita. E até que quando algum desavisado cita deus nos comentários do blog tenho vontade de ir no blog da pessoa e cuspir todas as merdas que ele tem feito...
Confesso, que já não tenho mais inveja dos meus amigos quando eles falam de deus, tenho pena.
Perdermos a Mara é absurdo.

O irmão dela trabalha com segurança, e já passou por uma meia duzia de tiroeios.
O meu irmão já cheirou/fumou/injetou/lambeu/chupou todos os tipos de substancias que existem e tá ai. S emarcar pode ser doador de orgãos, de tanta saúde.
Eu peleio com um tumor a doze anos.
Enquanto a Mara, do dia para a noite.
Se foi.

Minha avó tem 90 anos, pesa uns 35 quilos, deve ter pouco mais de um metro e meio.
Semana passada, eu vi ela virar uma leoa. Pegar minha tia NO COLO, e ter a força que nenhum de nós encontrou naquele momento.

Confesso, que com tanta dor que passamos, doeu mais, ver o desrespeito das pessoas.
Vontade que eu tinha de abrir a cabeça da pessoa e gritar lá dentro, mandar calar a boca.
Dizer: olha, desce do palco. Pare que querer as atenções do mundo pra você.
Respeite.
Se você não sabe o que falar, nõa mude de assunto, não tente contar dos teus problemas.
N'ós perdemos a Mara.
A Mara,
você tá me entendendo? A Mara.
Não é certo você querer palco, quando eu preciso de colo.





À Mara.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

suicidio

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Se tivesse creolina, bebia
Se tivesse rivotril, tomava.
Se tivesse wiskye, mandava pra dentro.
Se tivesse pinga barata, secava.
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Como não tinha nada.
Bebi um copo de nescau morno.
E fui dormir envolta em lágrimas.
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terça-feira, 24 de novembro de 2009

hoje só a morte me vestiria bem

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Vestiu preto.
Mas não sentiu-se bem.
Luto não era o que queria.
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Queria vestir a própria morte.
A tanto tempo não sentia o desejo por ela.
A tanto tempo o coração não doía tanto.
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Fez-se mentirosamente forte.
Mas mentirosamente forte foi o que havia sido esses meses.
Mentirosamente forte, era o que havia sido toda uma vida.
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Hoje queria ser fraca.
Queria ter mesmo deixado-se bater no acidente que evitou alguns momentos antes no centro da cidade.
Ao menos se naquele momento soubesse de tudo não o teria evitado.
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Na roupa preta seguiu a rotina.
Ao menos pudesse por algumas semana sumir.
Mas nem isso podia, os compromissos já estavam todos agendados.
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E essa vontade de fugir, essa vontade de sumir, essa vontade de morrer.
Chorar é pra fracos, repetia o jargão que ficou aposentado algumas semanas.
Morrer é pra perdedores, repetia a nova palavra de ordem.
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Restava vislumbrar o futuro sombrio.
E desejando a morte enfrentar a vida.
Com a alegria de farmácia recém comprada.
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Resta-lhe assumir a maturidade que quer negar.
E de uma vez por todas parar de se deixar ser criança.
De se obrigar ser criança.
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Pois se sabia de tudo desde sempre, só uma criança choraria pelo brinquedo que jogou contra a parede.
Vestiu preto e engoliu as lágrimas.
Desejou a morte. Mas que não fosse a sua.
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Engoliu as lágrimas que com aquele gosto de alto mar.
refletiam a mesma história, a mesma piada divinal
ontem mesma relembrada
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Vestiu preto
desejou a morte
e mais uma vez odiou o todo poderoso. Aquele piadista de mal gosto.

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