.Liguei pra minha tia no domingo a noite, precisava pegar minha prancha que estava na casa dela, ela me chamou pra tomar sopa.
Perder a Mara, foi um absurdo tão grande que fez nós todos revermos nossos valores.
Todos, menos meu pai. Mas não se pode esperar isso de alguém como ele.
Ficamos, eu e minha tia, falando da bestialidade que foi essa morte.
Acho que ela também se perguntava do porque investimos tanto tempo em algumas amizades, e a família, a gente deixa no pause, como se fossem ficar ali pra sempre.
A Mara morreu nova. E viveu pouco.
Essa frase que ouvi no velório, martelou na minha cabeça a semana toda.
Além de ser jovens, e os jovens não deveriam morrer; a Mara nunca fez nada. Nunca fez nada de errado nem de certo. Isso tá me incomodando demais.
Ele viveu a vida toda entocada naquele sítio.
Mas não era alguém tipo de novela das seis, que aproveita as cachoeiras, os cavalos... Não. Ela não gostava disso. Vinha pra cá pra estudar, mas era isso só. Vir, e só.
Quando resolveu trabalhar, ela trabalhava e só.
Não consigo fazer isso ter a dimensão real, parece que eu a conhecia pouco, e por isso pensava isso dela. Mas não. A Mara nunca correu riscos, nunca quiz mais, nunca tentou.
E me dói tanto, que ela se foi absolutamente do nada.
De manhã ela estava bem, ao meio dia foi internada, e a noite ela nos deixou.
Na terça-feira, minha mãe me ligou, avisando que iria lá.
Minha mãe definitivamente não é uma pessoa com tato. E por mais que fosse a irmã dela que tinha perdido uma filha, no dia do velório ela só pensou nela, se doía muito pra ela, ela tinha o direito de ir embora.
E eu, me vi ensinando minha mãe a se portar num momento assim.
Ela devia ter me ensinado né, ter dito, olha filha, nessa hora não existe nada que você possa dizer ou fazer. Então não diga, nem faça. Tá bom!
Nõa diga que foi a vontade de Deus, isso dói mais. Não diga que a hora chegou, porque não é justo a hora dela chegar antes da minha, não diga que com o tempo vai doer menos, porque não vai.
Ela vai querer falar, por pra fora.
Escute.
Só escute.
Só escute.
Se ela não quiser falar, não obrigue.
Seja o ombro que ela precisa.
Mas minha mãe nunca falou isso.
Eu que tive que falar pra ela.
E brigar ainda: não mãe, não fale da vontade de Deus... Eu sei que você pensa que foi, mas isso não ajuda e só atrapalha... eu sei mãe... tá bom... mas não fale... Mãe, e se fosse um filho seu? Ia ser justo ele ter levado e te deixado?
Confesso que eu achei que a esse ponto já teria recuperado minha fé. Mas os meses, um após o outro têem passado, e cada dia menos eu a encontro.
Confesso, que a fé dos outros me irrita. E até que quando algum desavisado cita deus nos comentários do blog tenho vontade de ir no blog da pessoa e cuspir todas as merdas que ele tem feito...
Confesso, que já não tenho mais inveja dos meus amigos quando eles falam de deus, tenho pena.
Perdermos a Mara é absurdo.
O irmão dela trabalha com segurança, e já passou por uma meia duzia de tiroeios.
O meu irmão já cheirou/fumou/injetou/lambeu/chupou todos os tipos de substancias que existem e tá ai. S emarcar pode ser doador de orgãos, de tanta saúde.
Eu peleio com um tumor a doze anos.
Enquanto a Mara, do dia para a noite.
Se foi.
Minha avó tem 90 anos, pesa uns 35 quilos, deve ter pouco mais de um metro e meio.
Semana passada, eu vi ela virar uma leoa. Pegar minha tia NO COLO, e ter a força que nenhum de nós encontrou naquele momento.
Confesso, que com tanta dor que passamos, doeu mais, ver o desrespeito das pessoas.
Vontade que eu tinha de abrir a cabeça da pessoa e gritar lá dentro, mandar calar a boca.
Dizer: olha, desce do palco. Pare que querer as atenções do mundo pra você.
Respeite.
Se você não sabe o que falar, nõa mude de assunto, não tente contar dos teus problemas.
N'ós perdemos a Mara.
A Mara,
você tá me entendendo? A Mara.
Não é certo você querer palco, quando eu preciso de colo.
À Mara.