sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

na cochia, criando personagens

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Há algo que não se ensina,
ou,
se, se ensina, eu queria ter aprendido metodológicamente.

Como criar uma personagem.

Eu crio a personagem na minha cabeça por muito tempo antes de colocá-la em cena. É preciso conhece-la, saber sua história, seu jeito, seus medos, seus planos.
Não dá de simplesmente haver a necessidade de personagem e colocar a pobre coitada em cena.

Falo no feminino, por que em algum momento aprendi que se fala a personagem e não o personagem, se isso mudou, pra mim não mudará.
Até porque algumas personagens foram tão fortes que eram quase homens, mas sempre as chamei de a personagem.

Pra dois mil y 10 tenho três personagens no forno, cada uma em seu palco.
E elas estão quase prontas.

O ideal, na hora de tirar uma personagem do mundo empírico pra trazer ao palco é que o figurino precisa ser pensado nos detalhes.

Eu começo pelas unhas.

Acho que unha fala mais que maquiagem, e dessa vez vai ser a mesma unha pras três, afinal os palcos são em teatros próximos, não haverá tempo de mudar algumas coisas de figurino.

Figurino só é peça única quando a personagem é única, essas, terão que dividir guarda-roupas. A mesma peça de figurino muda totalmente pela postura de palco da personagem, ombros, olhares e andar decidido deixam uma calça jeans com cara de poderosa, arcar-se, a face do medo e da decepção deixam essa mesma calça jeans com cara de recato e fracasso.

Gosto das personagens, mas cuido pra que se pareçam comigo, afinal, se serei eu interpretando-as, preciso sempre lembrar quem sou eu. E, ao chegar em casa, preciso me desfazer delas.

Acho que gosto tanto desse tempo de construção de cada uma pela honestidade do momento. A personagem é cuidadosamente construída, não gosto de nada feito ao acaso, de um dia pro outro, por necessidade descoberta no susto. Assim como uma boa mentira, gosto que seja intencional.

É que perco minha paciencia com o que é feito aleatóriamente.

Personagens que se criam da noite para o dia.

Acho que se eu fosse uma personagem de reality show, lá, pertinho do final, quando alguém sacasse que sou personagem, ia vir com aquele blá, blá, blá todo de que não foi honesta nem real... Mas foi, sempre é.
A diferença, é que eu tenho consciencia que sempre são personagens, e cuido dos meus.
Outro dia quando estiver mais decidida sobre alguns detalhes que faltam nas personagens de dois mil y 10 eu as apresento por aqui.

Também já nem sei se são personagens, ou eu que deixo o alter-ego mais livre do que ele deveria ser.

2 comentários:

Ana Cristina Cattete Quevedo disse...

Nunca vi analise tão bela dos pedaços que nos compõem.
Extremamente claro e lindamente construído.

Gostei mesmo =)

Beijão, moça!

Anônimo disse...

Maris, eu nunca tinha imaginado como alguém pode virar personagem. Não é tão simples e tem que ser um pedaço da gente mesmo. Gostei da comparação com a mentira intencional. Eu acho um dom maravilhoso esse de representar e virar personagem enquanto representa. Também vejo a dificuldade de se libertar da personagem. Adorei sua explanação, Maris. Ninguém faz isso porque acha que está entregando o ouro para o bandido, contudo não tem problema explicar porque muita gente se esquece que sem talento, nada acontece, né? Beijocas com carinho e no aguardo da evolução de suas idéias de montagem. Manoel.