sábado, 6 de novembro de 2010

Indonésia

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Eu sempre volto do cinema com vontade de escrever, como se o cinema me lembrasse que se eu não escrever minha história ninguém vai escreve-la por mim. E eu levo isso sempre tão a sério que minhas rimas sempre costumas ser pós-cinema.
Mas curiosamente, hoje não voltei pensando em rimas sobre alguém. Sobre a dor nem sobre o amor. Voltei pensando em mim e nas minhas histórias.
Pensei que eu também comprei um dicionário de italiano um dia, e também babava nele com a esperança de um dia aprender de tanto olha-lo.
Também aprendi lições de alma com indianos, e também trouxe de Indonésios coisas que ficarão pra sempre marcadas na minha vida.
Fiquei pensando nas lições que a protagonista fo filme aprendeu, e no porque eu n~unca consegui transformar minhas viagens em lições de vida.
Talve eu tenha saído jovem de mais.
Mas não há como sustentar esse argumento. Eu precisava daquilo mais do que do próprio ar naquele momento.
Talvez essa mania de só ver o lado ruim das coisas. É esse argumento faz sentido, e eu bem devia começar a rever meu ponto de vista da vida.
Na minha segunda viagem conheci uma carioca surtada que repetia sempre "você reclama demais" e eu não conseguia entender. Hoje já consigo me ver reclamando. Mas não consigo parar de reclamar.
Meu chefe romeno dizia que meu problema era que eu pensava demais. Recentemente meu orientador do tcc me disse a mesma coisa.
Meu chefe indiano me fazia chorar por não entender a separação que ele fazia de quando era meu chefe grosso e estupido e de quando era meu amigo. Hoje temo que queria ser como ele, mas não sei ser. Então não sou ninguém, e deixo de falar coisas que poderiam ser de grande valia no trabalho de alguém.
Enquanto eu esperava meu ultimo cheque, mais ou menos uma hora antes de sair do navio, a Rowena, uma Indonésia suja, trapaceira, piriguete, e um amor me procurava loucamente nos corredores do navio. Tinha nas mãos um frasco de um perfume que ela amava, que aliás fedia muito, pra me dar de presente. Disse que foi pra ela um orgulho trabalhar comigo. Morar também, sim eu dividi quarto com a cabelos cadentes. Ela falou como aprendeu comigo a só chorar escondida, que ninguém precisa saber que conseguia me deixar pra baixo. Hoje penso que eu tinha esquecido a lição que aprendi tão duramente naquele lugar.
Os Markos eram dois Servios lindos e vazios. Eu odiava um deles. O outro me encheu de orgulho um dia quando encheu a cara no bar e mandou nosso chefe filipino tomar bem no meio do olho do cu dele, isso após desenhar o mapa do olho do cu no placar da sinuca e pediu demissão.
O outro Marko, antes mesmo da palavra fake virar modinha eu o diferenciava do Marko hero, como sendo o Marko fake. Quando ele cantava de galo, eu que naquela altura tinha aprendido a brigar gritava "você não é real Marko. Nadsa em você é original." Não sei por que eu me implicava tanto com ele. No dia que pedi demissão ele me procurou, me deu um abraço apertado e falou naquele ingles porco dele: "Essa é minha ultima chance. Por isso ainda pareco fake, porque estou me criando de novo e preciso me adaptar a esse personagem. Você pediu demissão porque tinha mais uma chance. Mas, e se for a sua ultima chance, porque um dia, ela será, você não se agarraria a ela a ponto de criar uma nova você?"
O Marko fake me ensinou uma valiosa lição naquele dia, a de que eu não preciso ser sempre eu. E foi uma das poucas liçoes que a que tenho me mantido firme.
Acho que nos proximos dias vou tentar repassar os bons momentos que ficaram das viagens. Afinal os maus e já enterrei na minha memória seletiva mesmo.
Tentar deixar eles eternos, já que são mesmo merecedores da eternidade.
Prometi ao Phillip e à Supakorn que eles se casariam no Brasil, que era o meio do caminho no mundo. O Victor já estaria aqui, a Rowena viria da Indonésia, Phillip nadando da Africa do Sul e todos encontraríamos a Sup deslumbrante vestida de noiva.
Eles acharam que meu plano não era muito eficiente.
Mas acho queum dia vou reencontrá-los.
Hoje estranhamente eu sinto isso.

Um comentário:

Atitude: substantivo feminino. disse...

Poxa Maris..com certeza...escreva sim..vamos adorar ler..
Navios, viagens, novas culturas..amo.
Já gostei dessa introdução imagina do restante!
Bjs