quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A tristeza permitida

Hoje, venho compartilhar com todos vocês, seguidores queridos, a mais nova autora que entrou para minha lista de preferidos.
Martha Medeiros, uma conterrânea que tem me cativado a cada novo texto lido.
Então, quero dividir com vocês uma das minhas crônicas favoritas.

A tristeza permitida

Se eu disser pra você que hoje acordei triste, que foi dificil sair da cama, mesmo sabendo que o sol estava se exibindo lá fora e o céu convidava para a farra de viver, mesmo sabendo que havia muitas providências a tomar, acordei triste e tive preguiça de cumprir os rituais que normalmente faço sem nem prestar atenção no que estou sentindo, como tomar banho, colocar a roupa, ir pro compitador, sair para compras e reuniões - se eu disser que foi assim o que você me diz? Se eu lhe disser que hoje não foi um dia como os outros, que não encontrei energia nem para sentir culpa pela minha letargia, que hoje levantei devagar e tarde e que não tive vontade de nada, você vai reagir como?
Você vai dizer "te anima" e me recomendar um antidepressivo, ou vai dizer que tem gente vivendo coisas muito mais graves do que eu (mesmo desconhecendo a razão da minha tristeza), vai dizer para eu colocar uma roupa leve, ouvir uma música revigorante e voltar a ser aquela que sempre fui, velha de guerra.
Você vai fazer isso porque gosta de mim, mas também porque é mais um que não tolera a tristeza: nem a minha, nem a sua, nem a de ninguém. Tristeza é considerada uma anomalia do humor, uma doença contagiosa, que é melhor eliminar desde o primeiro sintoma. Não sorriu hoje? Medicamento. Sentiu uma vontade de chorar à toa? Gravíssimo, telefone já para o seu psiquiatra.
A verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia, está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro de nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silencio e a solidão. Estar trsite não é estar deprimido.
Depressão é coisa muito mais séria, contínua e complexa. Estar triste és estar atento a si próprio, é estar desapontado com alguém, com vários ou consigo mesmo, é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer, sem uma razão aparente - as rezões têm essa mania de serem discretas.
"Eu não sei o que meu corpo abriga
Nestas noites quentes de verão
E não importa que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão
Eu ando tão down..."
Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos que pega mal sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso, melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara . "Não quero te ver triste assim", sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que humilde, só quer usufruir do seu direito de existir, de assegurar o seu espaço nesta sociedade que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está calado de mais. Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinícius), mas melhor é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraua abaixo da euforia.
Tem dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem por isso devemos buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção, nem aceitar convites para festas em que nada temos para brindar. Que nos deixem quietos, que quietude é armazenamento de força de sabedoria, daqui a pouco a gente volta, a gente sempre volta, anunciando o fim de mais uma dor - até que venha a próxima, normais que somos.

Martha Medeiros - Doidas e santas.

10 comentários:

Anônimo disse...

Sê bem vinda! =)

Belle disse...

Realmente é lindo esse conto...
Bjos

Mais que palavras ... disse...

Lindo demaiss!

Adorei o blog!!!
bjaum

Carolina Filipaki disse...

Tbem gosto dela, embora a conheça pouco. Gosta de Clarice?
bjs

Bruninha disse...

Nossa, a Clarice é uma diva, surpreendente, cativante, inspiradora.
Adoro-a !!

Francisco disse...

Maris.
Acho que uma vez já comentei que por ser amigo pessoal da Martha, muitas vezes a critico e dou uns puxões de orelha.
Este texto, é perfeito, e tanto ela como você que escolheu, estão de parabéns.
Um beijãozão!!

(A Bruninha bebeu? Diz pra ela que é Martha e não Clarice! KKKKKKKK)

Bruninha disse...

shauhsauhsuahsuahsuahsuahsuahsuahsu
ihhh, olha o Chico o mais perdido.
Primeiro que esse texto é meu e não da Maris, e segundo, veja o comentário da Carol que você vai entender o que a Clarice ta fazendo ai no meio.

beijinhos

Francisco disse...

Bruninhaducéu!
Desculpa a confusão!
Esse "espinafre transgênico" que to plantando no quintal, às vezes dá um nó nas ideias! rsrsrsrsrs
Clarice, Bruninha, Martha ou Maris, são todas meninas super poderosas! KKKKKKKKK
Beijãozão Clar...ops, Bruninha! rsrs

Maris Morgenstern disse...

hauihaiuhaaaa

eu ri

RamoN Paduch disse...

Gostei ^^
Mta Gente tem Preconceito com a tristeza
Pra tudo tem um momento